Dia 8 de julho de 2014. Uma data que muitos brasileiros preferem sequer se lembrar. Há exatos 10 anos, a seleção brasileira, sediando a Copa do Mundo de 2014, sofria aquela que, se não é a maior e mais vexatória, é, sem dúvida, a mais surpreendente, de forma negativa, derrota de sua história. No Mineirão, em Belo Horizonte, os alemães não tomaram conhecimento e aplicaram humilhantes 7 a 1 nos brasileiros, na semifinal da competição, se garantindo na grande decisão contra a Argentina.
Nas arquibancadas do Gigante da Pampulha, o que não faltavam foram lágrimas, espanto e olhares estupefatos. Ninguém parecia entender ou acreditar no que se passava debaixo dos narizes dos torcedores brasileiros. Até então, o filme de 1950 ainda aterrorizava a cabeça da torcida. Naquela ocasião, que ficou conhecida como ‘Maracanazzo’, o Brasil foi derrotado pelo Uruguai por 2 a 1 e deu adeus ao título daquela Copa, que também foi sediada em terras tupiniquins. Com um sistema de disputa diferente, os brasileiros tinham a vantagem do empate para serem campeões.
Mas agora a situação era bem diferente. E pior. Jogando em casa, o time de Luiz Felipe Scolari, que tinha em Carlos Alberto Parreira, campeão em 1994, um coordenador técnico como figura quase decorativa, focava todas as suas esperanças em Neymar. O jovem, de 22 anos, brilhava no Barcelona, como parte integrante do chamado ataque MSN, ao lado do uruguaio Luis Suárez e do argentino Lionel Messi.
Várias ausências foram sentidas, antes mesmo do Mundial, na convocação de Scolari, principalmente pela juventude do elenco. Os torcedores temiam que os jogadores não tivessem estrutura para suportar a pressão de uma Copa em casa. Foram esquecidos, entre outros, Kaká (32 anos, então no Milan), Robinho (30 anos, então no Milan) e Ronaldinho Gaúcho (34 anos, então no Atlético). Estes e outros não poderiam ser consideradas peças fundamentais no time de Felipão, mas poderiam ser o ‘escudo’ dos mais novos.
A principal novidade ficou por conta do atacante Bernard, do Atlético. Então, com 21 anos, o jogador brilhava com a camisa atleticana. Chegou a ser chamado por Luiz Felipe Scolari de ‘Alegria nas Pernas’, por sua habilidade e velocidade.
Para aumentar o otimismo brasileiro, a seleção vinha de uma ótima conquista no ano anterior. Em casa, o time nacional venceu a Copa das Confederações, no Maracanã, batendo a então campeã do mundo, a Espanha, com um sonoro 3 a 0, com dois gols de Fred e um de Neymar.
Parecia um sonho para grande parte dos torcedores brasileiros. Acompanhar uma seleção nacional, em casa, em uma Copa do Mundo. Parecia, mas acabou virando um pesadelo.
Na primeira fase, o Brasil já deixou alguma desconfiança no ar. Os brasileiros passaram pela Croácia (3 a 1), com direito a gol contra do lateral Marcelo, empataram com o México (0 a 0) e venceram Camarões (4 a 1), na primeira fase. Nas oitavas, no Mineirão, o time brasileiro passou apertado pelo Chile, vencendo nos pênaltis por 3 a 2, depois de empate por 1 a 1 no tempo normal. O time de Scolari foi dominado na maior parte do tempo e contou com um Júlio César inspirado, nas penalidades. Ele pegou dois e classificou o time de forma dramática.
Nas quartas, no aperto, vitória sobre a Colômbia, no Castelão, em Fortaleza, por 2 a 1. Com uma agravante. Na reta final do jogo, faltando cinco minutos para o encerramento, ocorreu um lance que, para muita gente, influenciou diretamente no que viria a ser a tragédia na semifinal contra a Alemanha. Em uma disputa de bola, na lateral, o colombiano Zuñiga acertou uma joelhada nas costas de Neymar, até então o principal jogador do time brasileiro. A lesão na coluna o tirou da Copa. Além dele, o zagueiro Thiago Silva, capitão do time, também ficaria de fora, depois de receber um cartão amarelo contra a Colômbia e ter que cumprir suspensão.
‘Minerazo’
Enfim, é chegado o dia da grande semifinal. Estava mantido o sonho brasileiro de conquistar uma Copa do Mundo em casa. O adversário, a tão temida Alemanha. O time europeu, que escolheu a Bahia como sede, se preparou e se concentrou para a busca de mais um título.
Na escalação brasileira para a semifinal, Scolari mandou a campo Bernard na vaga de Neymar, deixando a equipe mais ofensiva. A esperança era de um time que buscasse o ataque a todo custo e ganhasse o jogo, mostrando o DNA brasileiro.
Mas logo nos minutos iniciais a tática já se mostrou ineficaz. O passeio alemão começou logo cedo, aos 10 minutos, aproveitando cobrança de escanteio de Toni Kroos, Muller, livre na área, bateu de primeira e abriu o marcador. E não demorou para os alemães ampliarem, sem qualquer dificuldade, com Klose, aos 22 minutos. De quebra, ele passou Ronaldo como principal goleador da história das Copas, com 16 gols.
E o que se viu, daí por diante, foi uma seleção brasileira totalmente em pane, perdida, sem qualquer esquema tático e absolutamente dominada. A chuva de gols que veio a seguir comprovou que o time brasileiro chegou totalmente despreparado para encarar uma seleção forte como a Alemanha, em uma semifinal.
Toni Kroos, duas vezes, e Khedira ainda tiveram tempo, na primeira etapa, de ampliar, e as duas seleções foram para os vestiários com humilhantes 5 a 0 para os alemães. Schurrle, duas vezes, encerrou aquela que seria a maior humilhação da seleção brasileira, no segundo tempo, provocando uma tristeza jamais vista no Mineirão. No final, aos 44 minutos, Oscar ainda diminuiu o vexame, sem apagar a vergonha passada por torcedores e jogadores da pentacampeã mundial.
O time de Luiz Felipe Scolari desabou de vez quando o árbitro mexicano Marco Rodríguez encerrou a surra germânica. Lágrimas, lamentos e pedidos de desculpas foram a tônica dos jogadores brasileiros. David Luiz, que acabou pegando a pecha de grande vilão da goleada, precisou ser amparado por Thiago Silva, que era o capitão do time e não esteve em campo. E engana-se quem pensa que o sofrimento brasileiro estava finalizado na Copa. Na disputa pelo terceiro lugar, um time totalmente abalado e aos frangalhos levou outro passeio, dessa vez da Holanda, perdendo por 3 a 0.
FICHA TÉCNICA
BRASIL 1 X 7 ALEMANHA
Local: Estádio Mineirão
Data: 8 de julho de 2014 (terça-feira)
Horário: 17h (de Brasília)
Árbitro: Marco Rodríguez (MEX)
Assistentes: Marvin Torrentera (MEX) e Marcos Quintero (MEX)
Cartão amarelo: Dante (Brasil)
Gols:
BRASIL: Oscar, aos 44 minutos do segundo tempo
ALEMANHA: Muller, aos dez, Klose, aos 22, Kroos, aos 23 e aos 25, e Khedira, aos 28 minutos do primeiro tempo; Schurrle, aos 23 e aos 33 minutos do segundo tempo
BRASIL
Júlio César; Maicon, David Luiz, Dante e Marcelo; Luiz Gustavo e Fernandinho (Paulinho); Bernard, Oscar e Hulk (Ramires); Fred (Willian)
Técnico: Luiz Felipe Scolari
ALEMANHA
Neuer; Lahm, Boateng, Hummels (Mertesacker) e Howedes; Schweinsteiger e Khedira (Draxler); Muller, Kroos e Ozil; Klose (Schurrle)
Técnico: Joachim Low
Terra
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