A reportagem do OP9 - Uma rotina puxada, sob o sol escaldante de Maceió e no meio de uma das avenidas mais movimentadas da cidade. É assim que tem vivido o casal Gustavo Soares e Yngrid Pereira – de 24 e 20 anos respectivamente – que há dez dias vende água no trânsito da Avenida Rotary com o único objetivo de arrecadar dinheiro para financiar o casamento dos dois, previsto para acontecer no dia 28 de novembro deste ano. Tudo se encaminhava bem, até que os dois perderam o emprego e não tiveram mais como arcar com os custos da festa.
Os dois moravam perto um do outro, mas nunca tinham se cruzado. Até que a internet deu uma ajudinha e eles se conheceram por meio de uma rede social. Isso aconteceu em 2016. O noivado deveria ter sido realizado já no ano passado e eles ainda chegaram a vender garrafas de água no trânsito durante três meses. “Arrecadamos um dinheiro legal que deu para pagar várias despesas do noivado em janeiro deste ano. Depois disso, paramos porque não tínhamos mais ideia de quando iríamos nos casar”, diz Gustavo.
Entretanto, os ventos sopraram a favor do casal, quando ele ganhou alguns prêmios para o casório em sorteio de um cerimonial: vestido, terno, cabelo, maquiagem e até fotografia fizam parte do pacote de presentes. “Ficamos com a responsabilidade de conseguir dinheiro para contratar os fornecedores que faltavam. No dia 17 de outubro, decidimos voltar para o sinal para conseguir esse dinheiro”, explica o noivo, ressaltando a rotina de venda: de segunda a sexta eles ficam no sinal da Rotary a partir das 10h, até o momento em que não houver mais garrafas para vender, o que acontece somente por volta das 16h.
Uma conta no Instagram foi criada, denominada de “Missão Casório”. A divulgação deu certo e a sensibilização das pessoas já resultou em doações da decoração, filmagem, forminhas para doces, segurança, salão de festa, iluminação, telão, o bar e manicure e pedicure para a noiva. “Continuamos com as vendas porque ainda nos faltam o buffet, o bolo e o DJ”, complementa Gustavo.
A busca por emprego
Perguntado sobre qual o sonho dos noivos após a realização do casamento, Gustavo não mediu as palavras para responder que o emprego é o primeiro da lista. Os dois estão desempregados desde o ano passado. Yngrid vendia sopa com a mãe e Gustavo trabalhava em uma empresa de cartuchos. Neste tempo, eles juntaram um dinheiro. Um certo dia, foram comprar flores para as lembrancinhas do noivado no Centro de Maceió. Ao retornarem, ambos foram surpreendidos com um assalto. A moto em que estavam e que era o principal instrumento de trabalho de Gustavo havia sido roubada. O noivado não aconteceu.
“Foi roubada faltando dois dias para o noivado. Fiquei desempregado porque a moto era meu meio de trabalho para fazer entregas”, conta Gustavo. Yngrid, por sua vez, não conseguiu mais vender as sopas, porque sua mãe tinha encontrado outro trabalho. “Decidimos colocar currículos, mas não recebemos nenhuma ligação. A única saída realmente foi a venda de água”, reforça Gustavo. Somente no final do mês, Yngrid afirma que foram enviados 30 currículos para empresas, sem retorno. O casal é noivo há nove meses.
Os noivos também uniram forças no amor e no companheirismo para vencer as barreiras do desemprego com a venda de lanches. Gustavo chegou a trabalhar como servente. “E assim vamos nos virando”, complementa. “Queremos conseguir um emprego para nos manter e montar nossa casa. Já temos a casa própria, mas, por falta de condições, não conseguimos mobiliar. O emprego é o que vai fazer total diferença em nossas vidas daqui para frente, até para fazer nossos cursos”, afirma o casal. Ambos estudam atualmente no Ensino Médio. Ele quer fazer Gastronomia. Ela, odontologia.
